Onde tudo Começa? Aprender a conviver com a diversidade, um desafio que se inicia ainda na primeira infância

Para a maioria das crianças, a escola é o ambiente no qual se dão as primeiras grandes experiências de sociabilidade. Para além das relações vividas em casa e com os familiares, é na convivência escolar que as crianças encontram-se com aquilo que é diferente, descobrem que há muitas maneiras de agir e de pensar e vivenciam seus primeiros conflitos morais.

Ao interagir com os colegas, os alunos e alunas da Educação Infantil estão, a todo momento, sendo desafiados a lidar com o outro e com as suas particularidades: a fala do outro, o gesto do outro, o choro do outro, a risada do outro, o jeito de brincar do outro… E o que este convívio revela às crianças é que a forma pela qual elas vinham aprendendo a encarar o mundo não é a única possível.

Parte importante do processo de desenvolvimento da criança diz respeito à construção de uma série de habilidades sociais e emocionais, relacionadas à escuta e à capacidade de levar o outro em consideração. Nesse sentido, a escola é um ambiente sociomoral privilegiado, pois além de possibilitar a convivência em grupo, a presença do olhar atento das professoras e professores garante que as crianças estejam sempre acompanhadas por profissionais preparados para mediar as situações e intervir quando necessário. 

Assim, mais do que um lugar onde se aprende a ler e a escrever, a escola é também, por excelência, um espaço de aprender a conviver. Não à toa, parte significativa das novas contribuições trazidas pela atual Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada em 2017, são relativas às competências que se espera que os estudantes desenvolvam ao longo de cada etapa da educação básica, não apenas intelectuais, mas também culturais e socioemocionais.

Além de ajudar os alunos e alunas a compreender determinados conteúdos programáticos, a escola deve, então, estar comprometida com uma formação humana integral, que colabore para a educação dos sujeitos de um ponto de vista global. Ou seja, que contribua com diversos âmbitos da vida das crianças e dos jovens, incluindo o desenvolvimento de aspectos sociais, culturais, emocionais, psicológicos e motores. 

Ainda que a elaboração desses objetivos seja bastante recente em termos nacionais, no Colégio Apoio, um colégio em Recife, oferecer experiências que levem os alunos e alunas a identificar seus próprios sentimentos e a aprender a dialogar com o outro sempre fez parte de nossas propostas pedagógicas, amparadas por uma abordagem construtivista que enxerga os estudantes como protagonistas de suas próprias aprendizagens.

Uma de nossas maiores preocupações está voltada para a construção coletiva de valores morais que orientem o convívio no Colégio, o que envolve toda a comunidade escolar. Quanto antes as crianças percebem que precisam engajar-se ativamente com os combinados que orientam a convivência na escola, mais elas têm facilidade em enxergar que há também certos princípios que organizam a sociedade como um todo.

Por isso, o encontro com a diversidade desde cedo enriquece a aprendizagem infantil, proporcionando uma boa base para a cidadania e para a ética democrática. São simples situações cotidianas vivenciadas na escola durante a primeira infância que iniciam esse processo, quando os alunos e alunas se deparam com a necessidade de aguardar a sua vez de falar, dividir os materiais com os colegas ou negociar com opiniões diferentes da sua.

A conquista da autonomia também se inicia na Educação Infantil, quando as crianças se veem diante de conflitos que precisam ser resolvidos. Entender a consequência de seus próprios atos e exercitar a escuta leva a uma compreensão mais profunda das regras sociais, que passa não somente por saber respeitá-las, mas por apreender o sentido de sua existência. 

Aqui, a mediação dos adultos é fundamental, pois até os pequenos serem capazes de lidar com os seus impasses sozinhos, é preciso haver intermediações. A preparação de todos os profissionais que trabalham no Apoio é, portanto, algo que cultivamos com muito cuidado em nosso Colégio. 

Porém, ao lado da formação estudantil e da formação de nossa equipe pedagógica, também a parceria estabelecida com as famílias é primordial. A clareza na comunicação, explicitando os valores da escola, bem como sua forma de condução, estreitam os laços, validando o lugar de importância e prioridade que o desenvolvimento moral tem em nosso projeto educacional.

Manuela Tavares e Mariana Gomes